Neste Setembro Amarelo, precisamos falar sobre uma das frases mais cruéis que um paciente com dor crônica pode ouvir: “isso é coisa da sua cabeça”. A verdade é que o sofrimento emocional que acompanha uma dor persistente não é imaginário. Ele é real, tem uma base científica e precisa ser tratado com a mesma seriedade que a dor física.
Se você convive com uma dor que não passa, provavelmente já percebeu que ela afeta muito mais do que apenas o seu corpo. Ela mina sua energia, rouba sua alegria e testa os limites da sua esperança.
Por que a dor que não passa também dói na alma?
Quando o corpo sente dor de forma contínua, o cérebro permanece em um estado de alerta constante. Esse estresse prolongado esgota nossos recursos químicos, incluindo neurotransmissores como a serotonina, responsáveis pela regulação do humor.
Cria-se um ciclo vicioso perigoso: a dor crônica aumenta o risco de desenvolver depressão e ansiedade e, por sua vez, um estado mental abalado pode amplificar a nossa percepção da dor. Portanto, a sua tristeza, irritabilidade e cansaço mental não são “frescura”, mas sim uma resposta neuroquímica real.
Quando a dor limita a vida: Gatilhos para o Sofrimento Emocional
Certas condições são particularmente desafiadoras, pois impõem limitações severas que podem ser gatilhos para o sofrimento emocional:
- Fibromialgia: A fadiga e as dores difusas que forçam o isolamento.
- Dor Lombar Crônica: A incapacidade de realizar tarefas simples, como trabalhar ou brincar com os filhos.
- Enxaqueca Crônica: O medo constante da próxima crise, que sabota a vida social e profissional.
- Neuralgia do Trigêmeo: Considerada uma das piores dores, gera um medo paralisante de atos simples como falar, comer ou sentir o vento no rosto.
O Caminho para o alívio: Como quebrar o ciclo da dor e do sofrimento
A boa notícia é que há esperança e tratamento. A abordagem mais eficaz é aquela que cuida do paciente por inteiro, atacando o problema em duas frentes essenciais:
- Controlar a Dor Física: Este é o primeiro passo fundamental. Como médico da dor, meu papel é utilizar as técnicas mais modernas e seguras – desde medicamentos específicos até procedimentos intervencionistas – para reduzir ou eliminar o estímulo doloroso. Ao aliviar o fardo físico, damos ao seu cérebro a chance de se reequilibrar.
- Cuidar da Saúde Mental: O acompanhamento com um psicólogo ou psiquiatra é um aliado poderoso. Falar sobre seus sentimentos, desenvolver estratégias de enfrentamento e, se necessário, tratar a depressão ou ansiedade é crucial para uma recuperação completa.
Um convite ao Cuidado Integral
Neste Setembro Amarelo, meu convite a você é: não normalize a vida com dor e sofrimento. Sua qualidade de vida e sua saúde mental são prioridades. Buscar um especialista em dor é o primeiro passo para traçar um plano de tratamento que olhe para você como um todo.
Não adie sua jornada em busca de alívio. Fale sobre o que sente.
Lembre-se: se você ou alguém que conhece precisa de apoio emocional imediato, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece ajuda gratuita e sigilosa pelo telefone 188, 24 horas por dia. Sua vida importa.