TRANSTORNO DOLOROSO É REAL, NÃO ESTÁ TUDO NA CABEÇA

Nesta síndrome de dor, assunto de hoje, a dor pode chegar a ficar tão severa que impacta a vida da pessoa de forma significante, é real, não é criada nem fingida e não está “tudo na cabeça”! Mesmo assim, não tem nenhuma causa orgânica ou mecanismo fisiopatológico que explique os sintomas completamente. Chama-se Transtorno Doloroso.

Esta síndrome faz parte da família maior dos Transtornos Somatoformes de Dor, como Transtorno de Somatização, Hipocondria, Transtorno Conversivo e outros. Muitos pacientes que tem esta síndrome não aceitam que a dor é ligada a fatores emocionais e chegam a recusar os tratamentos propostos.

Causas

No passado, achava-se que o transtorno doloroso era relacionado com o estresse emocional, no entanto, a pessoa com o transtorno doloroso parece ter baixo limiar de dor. Este par poderoso: dor e preocupação, são capazes de criar um círculo vicioso.

O transtorno doloroso é mais comum entre pessoas com uma história de abuso físico ou sexual. No entanto, nem toda pessoa com o transtorno tem histórico de abuso.

Um estudo alemão de Imbierowicz e Egle, publicado no European Journal of Pain (2003), investigaram e descobriram que algumas adversidades na infância (antes dos 7 anos) foram verificadas como relevantes no transtorno somatoforme doloroso.

Além dos dois primeiros mencionados antes, de relevância como causa estão: mau relacionamento afetivo com os pais; falta de manifestações de afeto; ver os pais brigarem; alcoolismo ou qualquer outra adicção por parte dos pais, principalmente da mãe;, separação; e condição econômica desfavorável.

Quanto mais avançado nosso entendimento das conexões entre cérebro e corpo, mais evidências temos que o bem-estar emocional afeta a maneira em que a dor é percebida.¹

Sintomas

O sintoma principal do transtorno doloroso é a dor crônica (que dura vários meses) que limita a pessoa no trabalho, nos relacionamentos e em outras atividades, deixando a pessoa muito preocupada ou estressada com sua dor.

Observa-se um padrão em que que o paciente persiste nas queixas e busca auxílio médico, principalmente os médicos de atenção primária e depois, das mais variadas especialidades, sempre trocando de médico e procurando constantemente que seja realizado um grande número de exames – o chamado doctor shopping, e tentando conseguir medicamentos ou até procedimentos cirúrgicos.

Nesse tipo de transtorno, apesar dos exames realizados serem negativos e os médicos tranquilizarem o paciente de que os sintomas não têm fundamento clínico, o paciente continua a se queixar e geralmente não aceita que as dores podem ser de origem psicológica. A história do paciente geralmente é longa e complicada e pode ter começado com algum trauma ou evento estressante na sua vida.

Isto não quer dizer que a dor deste paciente não deve ser investigada. Ao contrário, o médico de dor que se vê diante de tal quadro deverá realizar uma avaliação completa com exames: clínico, laboratorial e de imagens (RMN, TC, US, RX). Os sintomas descritos acima só constituem um transtorno quando há um quadro repetitivo de somatização que gera impacto significativo na vida do paciente.

Comorbidades

É importante observar que esses transtornos estão quase sempre associados a outros quadros emocionais. A comorbidade do Transtorno Somatoforme (concordância com outra doença simultaneamente) com outros quadros emocionais tem sido observada em torno de 85% dos casos, com predomínio de transtornos depressivos e de ansiedade. ²

Diagnóstico

Para se chegar em um diagnóstico de transtorno doloroso, além da avaliação médica, é preciso levar em conta aspectos biográficos e psicossociais do paciente. Uma investigação mais profunda pode revelar que o paciente tem ganhos com a queixa persistente de dor.

Tratamentos

As síndromes de dor crônica de todos os tipos na maioria das vezes são tratadas com antidepressivos e psicoterapia. Por exemplo, um paciente pode ser encaminhado para um psiquiatra para tratamento das comorbidades com anti-depressivos ou anti-ansiolíticos, que ajuda a diminuir a dor e a preocupação com a dor e para o tratamento psicoterápico utilizando TCC (Terapia Congnitivo-Comportamental)  – clique no link para ler um resumo do que é TCC, escrito por um dos psicólogos do centro de dor Singular, José Luiz Siqueira. Esta terapia ajuda no reconhecimento dos gatilhos da dor; estratégias de enfrentamento das sensações dolorosas; persistência nas atividades mesmo sentindo dor.

Outros tratamentos incluem:

– Técnicas de relaxamento
– Compressa quente ou fria
– Acupuntura
– Hipnose
– Massagem
– Fisioterapia
– Exercícios para a redução do estresse

É aconselhável que o tratamento seja realizado pela abordagem interdisciplinar e de preferência num centro de dor especializado. No sentido mais amplo, poderia ser chamada de manifestação de sintomas físicos de origem exclusivamente psicogênica.

 

Referências

¹www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000922.htm

²(García-Campayo J, Sanz Carrillo C, Pesrez-Echeverría MJ, Campos R, Lobo A. Trastorno por somatización en atención primaria: aspectos clínicos diferenciales. Med Clin – Barc – 1995; 105: 728-733.)

Compartilhe:

Nosso últimos conteúdos