SUGESTÃO DE LEITURA: MORTAIS

Livro provoca reflexão sobre o que é realmente importante no final da vida de doentes terminais ou doentes graves

Após os ótimos artigos dos profissionais especialistas em cuidados no final de vida, gostaria de sugerir um livro escrito pelo cirurgião americano, Dr. Atul Gawande. Autor consagrado, já emplacou três “livros mais vendidos” antes deste. Sempre vejo o livro na lista de publicações recomendadas pelos especialistas em cuidados paliativos, inclusive pelo Dr. Carlos Marcelo Barros no post passado.

O livro, Mortais — Nós, a medicina e o que realmente importa no final (Editora Objetiva), saiu em 2014 e foi bestseller da New York Times. Na revista Veja de março deste ano, também foi referenciado no artigo “Envelhecer no Século XXI” escrito por Fernanda Allegretti”, em relação a que seu autor Gawande propõe: que familiares dos idosos ou pacientes terminais conversem sobre limites, sobre o que faz a vida valer a pena quando se está velho, fragilizado e talvez não mais capaz de cuidar de si mesmo, e que estas conversas sirvam como guia das decisões que precisam ser tomados antes de morrer para que a pessoa possa viver até o fim com autonomia, dignidade e alegria.

capa livro mortais

Um trecho de Mortais:
Escrevi este livro na esperança de entender o que está acontecendo. A mortalidade pode ser um assunto traiçoeiro. Algumas pessoas podem ficar alarmados ao presenciar um médico escrever sobre a inevitabilidade do declínio e morte. Para muitos, tal conversa, não importa como for estruturada, suscita um quadro assombroso de uma sociedade se preparando para sacrificar seus doentes e idosos. Mas, e se os doentes e idosos já estão sendo sacrificados — vítimas da nossa recusa em aceitar a inexorabilidade do nosso ciclo de vida? E se tem abordagens melhores, bem diante de nossos olhos, esperando serem reconhecidas?

Será que submeter os pacientes a tratamentos na tentativa de prolongar a vida é mais importante que trazer conforto?

O livro relata os achados de pesquisas sobre o envelhecimento e cuidados no final da vida e inclui histórias comoventes. Provoca nossa reflexão com relação às limitações da medicina através dessas histórias e da sua própria experiência, pois, filho de um casal de médicos indianos, ele e sua família precisaram enfrentar a realidade da mortalidade quando o pai é diagnosticado com um tumor de difícil acesso localizado no cordão espinhal. Como lidar com isso? Quais decisões eram necessárias tomar? Quais eram os medos do pai dele?

Video da Editora Objetiva com o próprio autor falando sobre Mortais:

Gawande escreve sobre sua preparação médica para a morte, “Aprendi muitas coisas na faculdade de medicina, mas a mortalidade não era uma delas. Embora tivesse recebido um cadáver seco para dissecar no meu primeiro semestre lá, isto foi apenas um meio de aprender sobre a anatomia humana. Nossos livros didáticos não continham nada sobre o envelhecimento ou a fragilidade, ou a morte. Como o processo se desencadeia, como as pessoas experienciam o final de suas vidas e como afeta os que estão em sua volta, parecia fora do proposto. Do ponto de vista nosso e de nossos professores, o objetivo de uma formação em medicina era ensinar como salvar vidas, não como cuidar do seu final.”

A obra se destaca pela sensibilidade, honestidade e sabedoria com que trata o tema da morte e o reconhecimento das limitações da medicina. Recomendo!

[quotes style=”modern” align=”left” author=”Atul Gawande”]A modernização não rebaixou a posição dos mais velhos. Rebaixou a posição da família. A veneração aos idosos desapareceu, mas não foi substituída pela veneração aos jovens. Foi substituída pela veneração à independência[/quotes]

Sobre o autor: Dr. Gawande é cirurgião da Brigham and Women’s Hospital em Boston e professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard. Já publicou diversos artigos no NEJM e é diretor do projeto “Cirurgias Seguras Salvam Vidas” da OMS. Na vida literária, é colunista da New Yorker além de autor dos livros Better, The Checklist ManifestoComplicações.

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E para nos motivar a viver mais plenamente diante da certeza da nossa finitude, não deixe de ver o vídeo do rapper ambientalista americano Prince Ea. Com mais de um milhão de visitas no Youtube, o vídeo, intitulado “Everybody dies, but not everyone lives” (Todo Mundo Morre mas Nem Todo Mundo Vive), foi produzido em parceria com a empresa Neste e o diretor Taito Kawata (cocoa.fi).

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