O Lobo na Montanha

Um de meus melhores amigos da adolescência, o médico Marco Aurélio Lobão Mendes, chegou ao cume do Aconcágua no primeiro dia do ano. 6962 metros de altitude; o ponto mais alto de todo hemisfério sul! Ele e o guia foram os primeiros clientes mundiais a alcançarem o cume do “Sentinela de Pedra“ em 2013!

Eu e a quase totalidade de seus familiares e amigos desaprovamos sua aventura. Isto porque até então o ponto mais alto que Lobão havia escalado era o pé de manga da casa de Dona Irene, sua sogra. Ressalto  aqui que o espírito aventureiro sempre foi uma marca na vida do Marco.Marco Aurelio Lobao no cume da Aconcagua
dr marco aurelio lobao no pico de aconcagua
Após eleger sua equipe de viagem e definir a data, durante seis meses, Marco seguiu a risca um elaborado programa de preparação física. Comprou roupas para frio extremo, equipamentos de montanhismo e muitos livros sobre o assunto. Em 16 de dezembro, dez turistas e 3 guias seguiram para o período de aclimatação. Saíram de Mendoza em direção à Plaza de Mulas (acampamento base do Aconcágua). Duas semanas depois, somente dois turistas e um guia chegaram ao cume. Os demais não tiveram forças para prosseguir e tiveram que retornar.

Ouvindo atentamente o Marco, fiquei com interesse em aprofundar mais sobre o assunto. “No Ar Rarefeito” de Jon Krakauer e “No Teto do Mundo” de Rodrigo Ranieri chegaram em boa hora. Entendi então que para chegar lá no alto as pessoas precisam de muito preparo, planejamento, organização, prevenção e persistência.

Fiz uma transposição destas aventuras para meu trabalho no mundo corporativo que é o manejo em alta performance das dores agudas e crônicas. Em equipes interdisciplinares de tratamento da dor, como a que temos no Singular, é muito importante ter a sincronia e sinergia de toda equipe, troca regular de informações de pacientes, reavaliações diárias, foco, treinamento, procedimentos operacionais padrão, persistência. Muitas semelhanças.

Ao mesmo tempo vi uma diferença marcante! Lá no alto, em altitudes acima de 7000 metros, a baixa concentração de oxigênio faz com que cada montanhista cuide de si. Acidentes nesta área tornam o resgate de acidentados algo quase impossível. E  estas pessoas acidentadas  morrem ali, desassistidas. A tentativa de resgate coloca a pessoa saudável sob risco de vida também, pois há consumo de energia enorme em condições extremas.

No manejo da dor, trabalhamos como um time em tempo integral. Somos todos lideres da expedição, cada um cuidando de sua função sendo que ninguém esta autorizado a abandonar a expedição enquanto houver qualquer sopro de vida sob nossa responsabilidade.

Amigo Lobão, você nos alegra muito mais aqui, perto da gente. A partir de agora, permitimos-lhe chegar a altas altitudes somente a bordo de aviões!

Abraços e até a próxima!

Os livros citados:
“No Ar Rarefeito”.  Jon Krakauer. Editora Companhia das Letras.
“No Teto do Mundo”. Rodrigo Ranieri. Editora Leya Brasil.

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