Risco de câncer infantil e exames de imagens – quanto é demais?

O assunto da radiação continua rendendo amplos debates. Com o ocorrido no Japão, a comunidade internacional começa uma séria reflexão (ou assim esperamos) sobre o uso da radiação e como gerir seus riscos.

Quando saíram as últimas notícias sobre o aumento do nível de radiação no Japão, imediatamente fui remetido à Segunda Guerra Mundial e às seqüelas que a população teve logo após a bomba atômica. Idem Chernobil, que fez 25 anos esta semana.

Adultos e crianças desenvolveram câncer e até os que estavam in útero na época nasceram com câncer. As crianças que estavam no início da infância na época foram as que mais foram acometidas por câncer.

Isto suscitou uma outra questão que vem sendo abordada: a utilização excessiva da radiação ionizante no diagnóstico de doenças. É uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que uma imagem diagnóstica pode salvar uma vida, também pode expôr a um maior risco de câncer. Quanto é demais?

Em 10 de fevereiro deste ano, o British Medical Journal publicou os resultados de um estudo realizado pela cientista Preetha Rajaraman e seus co-investigadores. Eles fizeram um estudo de controle de caso para verificar se  a exposição à radiação in útero por raio-X diagnóstico, nos primeiros 100 dias de vida, e à ultrassonografia,  podiam ser associadas ao risco de desenvolver câncer infantil.

Na pesquisa, realizada no País de Gales e no Reino Unido, foram investigados 2690 casos de câncer infantil e 4858 casos controle por idade, gênero, e região, entre participantes do Estudo de Câncer Infantil do Reino Unido (UKCCS), nascidos entre 1976-96.

O que já se sabia sobre o assunto

  • Estudos anteriores relataram que a exposição à radiação no útero por radiografia diagnóstica está associada com maior risco de câncer na infância.
  • A relação entre radiografias pós-natal e o risco do câncer infantil não está clara, e imagens ultrassonográficas não foram associadas com o risco de câncer infantil.
  • A maioria dos estudos publicados sobre a radiografia pré- e pós-natal utilizou dados de entrevistas com pais.

O que este estudo acrescenta

  • Dados dos prontuários revelaram não haver nenhum risco excessivo de desenvolver câncer infantil devido à exposição in utero à ultrassonografia,  e haver aumentos estatisticamente não significantes do risco de todos os cânceres infantis e leucemia devido à exposição in útero a raios-X.
  • A exposição à radiografia diagnóstica no início da infância (0-100 dias) foi associada com um pequeno aumento do risco de desenvolver todos os cânceres infantis e leucemia, além de um aumento estatisticamente significante em ter linfoma.
  • É necessário cautela na utilização de exames diagnósticos com uso de radiação no abdômen e na pelve de gestantes e em crianças muito novas

Estas informações ainda poderá levar a pensar: e a profissional do raio-X ou ultrassom que está gestante, o embrião ou feto dela corre risco? No Brasil, e na maior parte do mundo, é regulamentada que a exposição ocupacional pelos trabalhadores radiológicos é de 20 mSv (milisieverts) em qualquer período de 5 anos consecutivos, não podendo exceder 50 mSv em nenhum ano. Enquanto isso, durante a gestação inteira, a grávida só poderá ter a superfície do abdôme exposta a uma fração desta dose, não podendo exceder 2mSv durante todo o período da gravidez, e de preferência ser regulado em 1mSv.

O que nos remete à indagação inicial…quanto é demais?

Fonte das informações
Sobre o estudo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3037470/
Referência Bibliográfica: 2011-04-21 BMJ 2011;342:d472
Sobre a regulamentação no Brasil: http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/453_98.htm

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