QUANTO MAIS DOR, MAIS INSÔNIA OU QUANTO MAIS INSÔNIA, MAIS DOR?

Quem sofre de dores crônicas como dor na coluna, fibromialgia, osteoartrose, doenças reumáticas, entre outras, pode ver a quantidade e qualidade do seu sono diminuir, causando um impacto negativo sobre o corpo e a mente. E ainda, não conseguir pegar no sono logo que deita pode gerar ansiedade por não iniciar o sono.

O que acontece? A dor interrompe o sono, a privação do sono reduz a tolerância a dor, aumentando a sensação dolorosa, que piora o sono. A falta de sono pode levar à baixa imunidade, possivelmente resultando em inflamações, que também causam dor. O ciclo se torna vicioso. Será necessário tratar a dor e a insônia. Mas, surge a dúvida, qual tratar primeiro? É a dor que faz começar a insônia ou vice versa? Como se pode intervir em um quadro assim?

Estudo da relação entre a dor músculo-esquelética e a insônia

Com o propósito de descobrir a ligação entre a dor músculo-esquelética e a insônia e qual deve ser o foco primário de tratamento e prevenção, a pesquisadora Nicole K.Y. Tang com sua equipe da Universidade de Warwick, Reino Unido, realizou um estudo com 6,676 pessoas com 50 anos ou mais para examinar a relação entre a dor e a insônia. Os achados foram publicados online no Oxford Journal of Rheumatology em 14/08/2014. dor cronica causa insonia

Escolheram participantes que eram pacientes em clínicas médicas em North Staffordshire, uma região central do Reino Unido e lhes enviaram por correios questionários sobre dor e sono. Eles então analisaram suas respostas e três anos mais tarde repetiram o envio dos questionários, fazendo nova análise.

Questionário sobre dor – Para levantar os dados sobre dor, pediram às pessoas que estiveram ‘com dor’ de duração de 1 dia ou mais nas 4 semanas antes do preenchimento dos questionários que sombreassem a/s área/s dolorosa/s num desenho em branco da parte frontal e posterior do corpo humano. Quem sombreou ambos os lados do corpo, acima e abaixo da cintura, os ossos da cabeça, coluna ou costelas, foi classificado como tendo ‘dor generalizada’ e quem não sombreou todas as partes e não satisfez o critério para ‘dor generalizada’ foi categorizado como tendo ‘alguma dor’.

Questionário sobre sono – Com relação à qualidade do sono, o questionário pediu para o participante responder perguntas sobre os quatro componentes do sono nas 4 semanas antes do preenchimento do questionário: início, duração, consolidação ou qualidade. Foi avaliado se houve interrupção do componente em nenhuma noite, algumas noites ou a maioria das noites.

Participantes que relataram dificuldades na maioria das noites foram excluídos da linha base já que o desenvolvimento da insônia após 3 anos foi considerado como sendo uma alteração de ter o sintoma em nenhuma noite ou alguma noite para a maioria das noites. No início do estudo, em torno de 3,000 pessoas sentiram ‘alguma dor’, enquanto 1800 não sentiam ‘nenhuma dor’, e 1800 ‘dor generalizada’.

No início também, a maioria das pessoas com cada tipo de dificuldade de sono tinha ‘dor generalizada’, menos tinham ‘alguma dor’ e poucos tinham ‘nenhuma dor’.

Follow-up 3 anos depois – Três anos mais tarde, o mesmo questionário foi enviado aos participantes iniciais e, ao comparar os questionários dos dois períodos, os pesquisadores observaram que os participantes que não sentiam ‘nenhuma dor’ no início e aqueles ‘com dor’ eram mais propensos a relatar piora na qualidade do sono.

Risco maior de ter insônia – E ainda mais significante, os indivíduos que no primeiro questionário assinalaram ‘dor generalizada’, eram duas vezes mais propensos a desenvolver insônia comparado com aqueles que não sentiam ‘nenhuma dor’. Em resumo, a probabilidade das pessoas ‘com dor’ desenvolverem a insônia era maior. Obs.: Esta relação se manteve mesmo quando se considerou idade, gênero, classe econômica, formação acadêmica, ansiedade e depressão.

Atividade física e social – Ao pensar nos mediadores entre a dor e a insônia, ou seja, o que associava as duas, os pesquisadores, mediante as ferramentas de avaliação, SF-36 e KAP, viram que a redução nos níveis de atividade física e interações sociais eram bastante comuns em quadros de dor (embora não em todos os casos).

Qual é a importância desses mediadores? Em procurar alvos para prevenção e intervenção, os pesquisadores descobriram que tanto a atividade física quanto a interação social eram mediadores nesta associação dor-insônia.

As duas atividades são importantes na promoção do sono, pois criam a pressão para o sono, além de proporcionar oportunidades de exposição à luz e estimulação mental, essenciais no regulamento do ritmo circadiano. Portanto, se a pessoa mais velha se mantém fisicamente e socialmente ativa, reduzirá seu risco de desenvolver uma insônia. Tang e seus co-autores concluíram que as mudanças em estilo de vida que frequentemente acompanham a dor persistente têm impacto no sono, mas indicam que mais estudos são necessários para descobrir como a presença da dor leva ao desenvolvimento da insônia.

Além disso, enfatizaram que o tratamento da insônia sozinho era apenas o tratamento de um sintoma, assim como o tratamento da dor sozinho. Para o controle eficaz desta dupla, é necessário descobrir a condição causando a dor, tentar descobrir quando começou, quando piorou, quando melhorou para então decidir qual precursor tratar primeiro. O tratamento deve ser multidisciplinar e outras terapias devem ser tentados antes do uso de soníferos para a pessoa com dor ter uma boa noite de sono.

Próximo post: DOR CRÔNICA: QUEBRANDO O CICLO DA INSÔNIA – Parte 1. Não perca!

Referência: “Impact of musculoskeletal pain on insomnia onset: a prospective cohort study”. Oxford Journal of Rheumatology. March 2014

Atualizado em 18/06/2016

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