Quando a Dor se Torna um Obstáculo: A Jornada de uma Paciente com Síndrome Dolorosa Complexa Regional

A Complexidade dos Casos em Medicina da Dor

Ao longo dos anos atuando na medicina da dor, aprendi que cada paciente representa um desafio único. Alguns casos exigem criatividade, paciência e estratégias além do convencional. Foi exatamente isso que aconteceu com uma jovem paciente de 22 anos, que chegou à nossa equipe na clínica de Itabuna após um longo e difícil caminho.

O Início: Acidente de Moto e Fratura na Patela

Ela sofreu um acidente de moto, fraturando a patela — o osso do joelho. Passou por cirurgia, mas a recuperação não seguiu o curso esperado. Além da limitação do movimento do joelho, que dobrava no máximo 60 graus, surgiu algo ainda mais preocupante: uma dor intensa e desproporcional à lesão inicial.

Diagnóstico: Síndrome Dolorosa Complexa Regional (SDCR)

Essa dor persistente, que não respondia aos tratamentos convencionais, era causada por uma Síndrome Dolorosa Complexa Regional (SDCR) — um quadro em que o sistema nervoso amplifica a dor de maneira exagerada e, muitas vezes, incapacitante. Não era apenas a cicatrização do joelho que preocupava, mas sim a forma como o corpo da paciente interpretava o estímulo doloroso, tornando qualquer tentativa de movimentação um verdadeiro tormento.


A Escolha da Abordagem Intervencionista

Diante desse cenário de dor crônica intensa, optamos por uma abordagem intervencionista: realizamos uma simpatectomia por radiofrequência nos níveis L2, L3 e L4 da coluna lombar. O objetivo era modular a resposta do sistema nervoso simpático, que estava exacerbando a dor. O resultado foi excelente: a dor reduziu significativamente.

Novo Obstáculo: Artrofibrose e Limitação de Movimento

No entanto, um novo desafio permanecia: o joelho continuava rígido devido à artrofibrose (excesso de tecido cicatricial dentro da articulação). A próxima etapa era inevitável: uma artroscopia para liberar essa fibrose e permitir uma melhor mobilidade.

O Medo da Recorrência da Dor

Mas a paciente carregava um medo justificável: e se a cirurgia desencadeasse novamente uma crise de dor desproporcional? Esse é um dos maiores receios em pacientes com SDCR — o medo da dor retornar ainda pior após um novo procedimento.

Estratégia Personalizada: Analgesia Contínua para Recuperação Pós-Cirúrgica

Foi então que traçamos uma estratégia personalizada para minimizar esse risco: no dia da artroscopia, implantamos um cateter de longa permanência no canal dos adutores, permitindo uma analgesia contínua e parcial do joelho. Isso não apenas aliviou a dor, como também facilitou a reabilitação fisioterápica, essencial para a recuperação da mobilidade. Pouco mais de 20 dias após o procedimento, ela já apresentou um ganho significativo na flexão do joelho e uma evolução muito satisfatória. A estratégia funcionou.

O Propósito da Medicina da Dor

Esse é um daqueles casos que reforçam o propósito da medicina da dor: oferecer soluções a pacientes complexos, que muitas vezes se sentem sem saída. Quando conseguimos aliviar o sofrimento e devolver funcionalidade a alguém, temos a certeza de que estamos no caminho certo.

A paciente da nossa clínica de dor em Itabuna segue em recuperação, agora com mais mobilidade e menos dor. A medicina da dor está aqui para isso: transformar realidades e devolver qualidade de vida.

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