Opióides – Potentes no Alívio da Dor Severa desde a Antiguidade

Para muitos a mera menção do nome ópio ou opióide ainda desperta uma imagem negativa, remetendo à adicção e às alucinações. No entanto, quem já passou pela experiência desagradável que é a dor severa, seja ela aguda, crônica ou cirúrgica, possivelmente já conheça os “opióides”, nome dado aos analgésicos com base em ópio.

O termo opióide foi proposto por George H. Acheson, professor de farmacologia, para designar as drogas com ação semelhante à da morfina, porém com estrutura química diferente. Antes desta denominação elas eram chamadas de opiáceas.¹

Na semana passada abordamos a falta de acesso universal à morfina para pacientes nos estágios finais do câncer, ainda um assunto bastante debatido, que é uma das metas de combate à doença. Além da morfina, tem os opioides que são extraídos do ópio.

Conheça a seguir um pouco da história do ópio – extraída da papaver somniferum, literalmente a papoula que traz sonoe  seus derivados, que por séculos vêm sendo usado na medicina como analgésico no tratamento de dor, e que nem sempre teve a conotação que lhe é dado, numa tentativa de desmistificar o uso desse analgésico potente.

Ópio – fármaco utilizado desde a Antiguidade

Papoula, da qual é extraído o ópio.

Há um ideograma dos sumérios na Antiga Mesopotâmia  que descreve a papoula como Hul Gil, a planta da alegria e relatos a citam como analgésico cirúrgico na lista de prescrições médicas considerada a mais antiga do mundo, ca. 3400 A.C.

Outros objetos da cultura grega minoana, de 1500 A.C. mostram uma deusa com os cabelos enfeitados com cápsulas de papoula e seus olhos fechados indicam a sedação.

Os médicos árabes usavam extensivamente o ópio e cerca de 1000 D.C., foi recomendado por Avicena especialmente para diarreia e doenças dos olhos. Polifarmácia, incluindo uma mistura de medicamentos sem sentido foram frequentemente utilizados.

O ópio era conhecido pelos médicos gregos e romanos como um analgésico potente. Foi usado para induzir o sono e aliviar os intestinos. Pensava-se até que o ópio protegia o medicado do envenenamento. Seus efeitos prazerosos foram observados também.

No século um D.C. Celso sugeria o uso de ópio antes de cirurgias e Dioscórides (principal fonte de informação sobre drogas medicinais desde o século I até ao século XVIII) recomendava aos pacientes tomarem mandrágora (contém escopolamina e atropina) misturado com vinho, antes da amputação de um membro.

Até o século XV, o comércio e produção de ópio já tinha espalhado do Mediterrâneo até a China. O ópio tem muitos derivados, incluindo morfina, codeína, oxicodona, e heroína. ²

Sertürner, em 1803, foi o primeiro a isolar a morfina, principal ingrediente do ópio, sendo o primeiro a conseguir isolar um alcalóide de uma planta. Ele deu o nome “morfina” em homenagem ao deus grego dos sonhos, o Morfeu.

Morfina é dez vezes mais poderosa que o ópio processado, em termos de quantidade. Celebrado como uma droga milagrosa, foi largamente prescrito por médicos no meio dos anos 1800. É uma das drogas mais eficazes conhecidas por aliviar dor severa e continua sendo o padrão-ouro contra o qual novos analgésicos são avaliados.

Preparações simplificadas do ópio, tais como tinctura opii foram usadas até cerca de 2000, na Dinamarca. Aqui no Brasil, entre os cinquentões ou mais, quem não se lembra do elixir paregórico que era utilizado como anti-diarréico e analgésico, principalmente para as dores abdominais? Por ser um opiáceo, hoje seu uso é controlado.

No próximo post da série, leia sobre o uso atual da morfina, e outros derivados como a codeína e oxicodona, assim como os avanços na medicina e biotecnologia médica que permitem selecionar de maneira individualizada o opióide a ser usado.

Não percam!

Leitura complementar:

Artigo publicado na Revista Brasileira de Anestesiologia com uma breve história do ópio e opióides, clique aqui.

Para um compêndio bastante detalhado sobre os filósofos médicos (ou vice versa!) clique aqui.

Fontes:

¹Duarte. DF. Uma breve história do ópio e dos opióides.Rev. Bras. Anestesiol. vol.55 no.1 Campinas Jan./Feb. 2005

²http://www.deamuseum.org

 

 

 

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