O MODELO DE DOR DE LOESER

Enfatizando minha ressalva no post de segunda-feira sobre a percepção da dor crônica e a importância do tratamento multidisciplinar, voltamos ao tema com um artigo sobre o modelo do Dr. John Loeser, autoria de José Luiz Siqueira, um dos psicólogos do Singular Centro de Controle da Dor. Dr. Loeser afirma que a complexidade do fenômeno doloroso torna necessária uma avaliação multidisciplinar de cada caso, envolvendo a contribuição de diferentes profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas e psiquiatras, sob a liderança de um médico especializado no manejo da dor. Boa leitura!

Em 1982, Dr. John D. Loeser, um dos maiores estudiosos da dor no mundo, apresentou um modelo conceitual da experiência da dor que é tido como uma referência até hoje. O modelo enfatiza quatro componentes: nocicepção, dor, sofrimento e comportamento doloroso. Neste texto, vamos abordar cada um desses elementos e entender como Loeser chegou a este modelo.

ilustração modelo de dor de Loeser

Até os anos 60, a dor era considerada simplesmente como uma resposta fisiológica a um dano tecidual. A ideia de uma dor puramente física começou a receber críticas a partir da constatação de que pessoas com condições físicas muito semelhantes apresentavam respostas muito diferentes.

No mesmo sentido, percebia-se que a evolução do tratamento era muito diferente para cada pessoa. Profissionais de saúde se perguntavam porque alguns pacientes se recuperavam rapidamente, enquanto outros pareciam não melhorar, apesar do tratamento adequado.

Cada vez mais, estudiosos passaram a considerar que a experiência dolorosa, além de aspectos físicos, apresentava também aspectos psicológicos e sociais. Esta nova forma de abordar a dor ficou conhecida como abordagem biopsicossocial. Como o nome mesmo aponta, a dor passou a ser considerada a partir de suas dimensões: biológica, psicológica e social.

Baseado na abordagem psicossocial da dor, Dr. John Loeser desenvolveu o seu modelo explicativo para o fenômeno doloroso, que envolve, como já dissemos, quatro elementos. Vamos agora explicar cada um deles:

  1. Nocicepção: nós possuímos receptores por todo nosso corpo que são especialmente designados para detectar estímulos nocivos. Nocicepção envolve a detecção de lesão do tecido por estes receptores e a transmissão da informação da dor para o Sistema Nervoso Central.
  2. Dor: acontece quando o cérebro recebe um sinal nociceptivo. Porém, em alguns casos, mesmo sem haver a nocicepção pode haver dor. Isto acontece, por exemplo, quando há alguma disfunção no Sistema Nervoso Central. 
  3. Sofrimento: estado que reflete uma ameaça à integridade física ou psicológica do indivíduo. O sofrimento pode ser gerado a partir de condições diversas, como dor, medo, ansiedade ou estresse. 
  4. Comportamento doloroso: refere-se como cada pessoa se comporta em relação à dor. São exemplos de comportamento doloroso: 

–  Expressões faciais: caretas, arqueamento das sobrancelhas
– Atividade motora: fricção ou proteção da área dolorosa
– Atividades autonômicas: palidez, rubor, sudorese
– Expressões vocais paralinguísticas: choro, gemido, grito, suspiro
– Expressões vocais linguísticas: apelos, exclamações, queixas, solicitações
– Alterações posturais 

Para Loeser, a pergunta fundamental em qualquer avaliação da dor é: qual é o papel desempenhado por cada um dos quatro elementos no surgimento e na manutenção da queixa de dor do paciente?

Loeser também afirma que a complexidade do fenômeno doloroso torna necessária uma avaliação multidisciplinar de cada caso, envolvendo a contribuição de diferentes profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas e psiquiatras, sob a liderança de um médico especializado no manejo da dor.

Nós, da equipe do Singular Centro de Controle da Dor, trabalhamos com esta perspectiva. Buscamos sempre integrar a contribuição de profissionais de áreas diferentes, para promover um tratamento mais integral levando em consideração diversos aspectos da vida da pessoa que sofre com dor.

Fontes pesquisadas para a redação do texto:

1 – Bonica’s Management of Pain (2001): John D. Loeser, Steven H. Butler,  Richard Chapman e Dennis C. Turk – Editora Lippincott Williams & Wilkins Publishers . Introduction (JD Loeser)

2 – Experiência de dor e variáveis psicossociais: o estado da arte no Brasil (2010): Fabrício F Almeida; Áderson LCosta Jr; Fernanda NP Doca; Virgínia Turra. Link:  Link para referência

Psicólogo clínico José Siqueira

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