NO CORAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL

Olá amigos! Curtiram o carnaval? Gostaram dos filmes do último post? Neste feriado fugi com minha família para Cape Town, África do Sul.

Cidade do Cabo

Lá pude passear com os filhos. Mergulhei com focas, compartilhei uma aula de surf com as crianças, fui em um safari, conheci o famoso Cabo da Boa Esperança, presente em minha memória desde os longínquos tempos de escola e vi um belíssimo pôr do sol de cima da “Table Mountain”. Também pude conhecer ótimos restaurantes, vi pinguins, andei de roda gigante, vivenciei a alegria genuína do povo africano e conheci de perto o legado que Nelson Mandela deixou para seu povo.

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Olhando os pinguins em Boulder Beach.
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Hout Beach, preparados para o snorkeling.

Fiz a alegria de meus meus filhos que simplesmente queriam tomar sorvete no McDonald’s e caminhar pelo jardim botânico. Cape Town não é uma cidade de se visitar em poucos dias; é uma cidade para visitar muitas vezes. E por que não, morar ali? Muitos estrangeiros fazem isto quando se aposentam.

No meio disso tudo um museu muito especial chamou minha atenção. Neste passeio, fui sozinho, sem a família, me arrependi por isso…

Museu do Coração de Cape Town

Fui visitar o Museu do Coração de Cape Town (The Heart of Cape Town Museum). Para muitos que não sabem, no antigo edifício do Hospital Groote Schuur, o Dr. Christiaan Barnard realizou o primeiro transplante de coração inter humanos em 03 de dezembro de 1967.

clipping primeiro transplante coração retrato Dr. Christiaan Barnard

Primeiro transplante de coração entre humanos

Isso foi um marco na história da medicina. Médicos residentes nos Estados Unidos como Dr. Shumway e Kantrowitz desenvolveram toda técnica operatória em animais; cada um deles tinha experiência de mais de 230 cirurgias experimentais em animais comparado aos 48 casos do Dr. Barnard, mas, dificuldades na legislação vigente nos Estados Unidos daquela época, sobre conceitos atuais de morte cerebral permitiram ao Dr. Barnard realizar esta façanha, em um país em desenvolvimento.

Claro que isto dependeu de uma somatória de fatos coincidentes: o consentimento de doação de um pai sofrido que perdeu a filha em um atropelamento, a jovem Denise Darvall de 25 anos de idade, e a receptividade ao transplante proposto pelo Dr. Barnard ao paciente Louis Washkansky, primeiro homem da história a ser submetido a tal tratamento. Outro importante fato para aquela época, em tempos duros do Apartheid, era ter doador e receptor para o primeiro caso da mesma raça, no caso brancos, o que poderia despertar críticas sobre o surgimento de um novo tipo de genocídio. Por último, a atitude destemida do Dr. Barnard, que sofreu inúmeras críticas, principalmente dos americanos, que viram boquiabertos este fato ocorrer longe de suas terras.

Esse primeiro paciente sobreviveu 18 dias e faleceu com pneumonia. O segundo transplantado do Dr. Barnard sobreviveu 593 dias, o terceiro 622 dias, o quarto 64 dias, o quinto 12 anos e o sexto 23 anos!

Ao todo, o Dr. Barnard realizou 52 transplantes entre 1967 e 1982, quando se aposentou.

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Imagem em cera do Dr. Christiaan Barnard no Museu do Coração de Capetown.

Dr. Christiaan Barnard indicado ao prêmio Nobel

E foi assim que o Dr. Barnard entrou para história. Até sugeriram seu nome para concorrer ao prêmio Nobel da Medicina mas para isso, precisaria mudar de país pois não poderiam premiá-lo vivendo em um país que promovia o Apartheid. Sua resposta foi:
– Se não posso recebe-lo vivendo na África do Sul, declino desta indicação.

Os Estados Unidos desenvolveram muito esta técnica cirúrgica. São já mais de 100 mil transplantes cardíacos realizados em todo o mundo e a sobrevida atual é de mais de 5 anos em 75% dos casos. Quem for a Cape Town, não pode deixar de visitar esse museu. Você estará dentro da sala cirúrgica onde foi realizado este histórico transplante, com bonecos em cera e equipamentos cirúrgicos que recriam toda a atmosfera daquele momento. Tudo isso cuidado carinhosamente pelo curador do museu Hennie Joubert.

Para finalizar, trago palavras do Dr. Christiaan Barnard.

“Life is the joy of living; it is the celebration of being alive. I realized what medicine is all about: Medicine must bring back the joy into the life of the patient. Medicine must give the patient something to celebrate. When medicine cannot do this anymore, then the goal of medicine must be to allow the patient to die a death as quickly and painlessly as possible”.

Tradução:
“A vida é a alegria de viver; é a celebração de estar vivo. Entendi do que se trata a Medicina: A Medicina deve trazer de volta a alegria de viver do paciente. A Medicina deverá dar ao paciente algo para celebrar. Quando a medicina não consegue mais fazer isso, então o objetivo da Medicina deve ser de proporcionar ao paciente tanto quanto possível uma morte rápida e indolor”.

Olha que legal, ele finaliza colocando a medicina da dor em evidência, para controlar a dor do próximo. Obrigado uma vez mais Dr. Barnard!

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