Você sabe o que é uma “doença oportunista”? Aquela que aproveita da baixa imunidade para atacar? A doença em foco hoje é a Herpes Zoster – causada pela reativação do vírus da catapora. Veremos quem corre mais risco e como pode ser tratada. O tratamento da doença na fase aguda é essencial para reduzir a probabilidade de desenvolver a neuralgia pós-herpética, doença crônica que acomete 20% dos pacientes que tiveram herpes zoster.
Herpes Zoster
Doença infecciosa de origem viral, também conhecida como “cobreiro” ou “zona”. Seu nome técnico é Herpes Zoster. Caracteriza-se por erupções dolorosas na pele e dor neuropática (nos nervos).
Fatores de Risco
- Ter mais de 50 anos
- Ter tido catapora (varicela)
- Estar imunodeprimido (com imunidade baixa)
- Ter passado por estresse ou trauma (a imunidade abaixa!)
Causa
A reativação do vírus Varicella zoster, responsável pela catapora.
Depois de um quadro de catapora, o vírus permanece nos gânglios sensoriais da raiz dorsal espinhais e dos nervos cranianos (incubação). Com a idade, uso de imunossupressores ou doenças que afetam a imunidade, o vírus pode superar as defesas do corpo e ressurgir, causando erupções cutâneas dolorosas e eritema.
Sinais e Sintomas
Antes das erupções de pele, os pacientes relatam:
- Mal-estar
- Dor de cabeça
- Febre
- Dores neurálgicas
- Perda de sensibilidade
- Ardência e coceira locais
A lesão típica é uma vesícula (bolha pequena) sobre uma base avermelhada na pele. As bolhas ficam aglomeradas e localizadas de um lado do corpo. O quadro evolui para a cura dentro de 2 a 4 semanas.
As regiões mais comprometidas são:
- Torácica (da cintura ao pescoço)
- Cervical (pescoço)
- Trigêmeo (face)
- Lombossacra (cintura para baixo)
A dor pode ser intensa e debilitante, persistindo por anos e afetando a qualidade de vida do paciente.
Incidência
HZ é mais comum entre pessoas com mais de 50 anos. O risco dobra a cada década. Não é comum em pessoas com menos de 15 anos.
A incidência de herpes zoster é:
- 15 vezes maior em pacientes com AIDS
- Até 25% dos pacientes com linfoma de Hodgkin desenvolvem a doença
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Complicações
1 em 5 pacientes que tiveram dor de HZ desenvolvem a neuralgia pós-herpética, que pode durar a vida inteira, impactando o desempenho físico, emocional e social do paciente. Ocorre mais em pessoas com mais de 60 anos ou imunocomprometidas.
Prevenção
Tratamento precoce
Ações sinérgicas no início da doença reduzem a dor e evitam complicações. Também diminuem o risco de neuralgia pós-herpética.
Vacinação
Indicação para adultos acima de 50 anos. Contraindicada para:
- Mulheres grávidas
- Pacientes com imunossupressão grave
- Pacientes com tumores de medula óssea ou linfático em tratamento com mais de 20mg de prednisona/dia
Portadores de HIV
Pacientes imunodeprimidos podem ter dificuldades na recuperação. A prevenção e tratamento são essenciais, com ou sem o uso de medicamento antirretroviral.
Tratamento
Educação ao paciente
É fundamental informar o paciente sobre o risco de transmissão do vírus Varicella zoster para pessoas que nunca tiveram catapora. A região das lesões deve ser mantida limpa e seca para evitar infecções secundárias.
Modalidades Terapêuticas
O tratamento é multimodal e varia conforme a severidade da dor do paciente. Em geral, combinações de fármacos com diferentes mecanismos de ação apresentam melhores resultados.
Tratamento da dor aguda
Os seguintes tratamentos demonstram eficácia na redução da dor aguda de HZ:
- Drogas anticonvulsivantes (gabapentina)
- Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina)
- Anti-inflamatórios (metilprednisolona)
- Analgésicos tópicos (capsaicina 8% creme, lidocaína adesivo)
- Analgésicos sistêmicos (tramadol, opioides – segunda e terceira linhas de tratamento)
- Antivirais
- Corticóides
Quando não há melhora, tratamentos intervencionistas são implementados como terceira linha de tratamento.
⚠ Alerta: Os medicamentos devem ser utilizados apenas com prescrição médica, preferencialmente por um especialista em dor.
Tratamentos Intervencionistas
- Injeções epidurais e infusões intratecais
- Neuromodulação
- Toxina botulínica (uso mais recente)
- Bloqueios simpáticos e regionais (necessitam mais estudos)
A eficácia dos bloqueios está associada ao encurtamento da duração da dor, redução de danos isquêmicos e restrição da inflamação cutânea neurogênica.
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Fontes:
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