Como a aproximação da semana das crianças, com as escolas começando a ensaiar para as comemorações, as lojas colocando seus brinquedos mais chamativos no display, e por aí vai, nada mais justo do que abordar o tema da dor infantil.
“Mamãe…papai…tá doendo muito.” Quem já ouviu esta frase deve recordar a impotência que sentiu e o desejo que teve de tomar aquela dor ou sofrimento para si no lugar do pequeno doente. Toca no fundo da alma, não é?
Para pai ou mãe que já esteve acordado a noite inteira com uma criança adoentada , ou acompanhado uma que estava internada, sabe-se que a dor de uma criança pode nos afligir mais do que nossa própria dor. Afinal, nosso instinto é de proteger e ver o nosso rebento a salvo do sofrimento.
Quando se trata de dor aguda, a qual a criança pode facilmente identificar e manifestar, ou algum mal que logo vai embora, o controle da dor pode ser imediato e a criança terá alívio assim que for medicado, dormindo até se recuperar, e logo noutro dia sairá brincando como se nada tivesse acontecido, tamanha a resiliência de uma criança.
No caso da dor crônica, como diagnosticar e tratar uma criança que sofre? Por exemplo, no caso do recém-nascido ou bebê, como poderá a criança relatar o que está sentindo se ainda não fala? ou uma criança maior, que talvez ainda nem tem o vocabulário para descrever sua dor? ou a que tem dificuldade comunicativa (como muitas vezes é o caso das que sofrem de doenças neurológicas que impedem a fala).
Quando não é possível o auto-relato, como avaliar e mensurar a dor da criança? E quando isso não é possível, será que a criança recebe a analgesia adequada?
Claramente, a abordagem do controle da dor em crianças precisa ser diferenciada para que não fique sub-tratada nem sem tratamento.
Hoje, através de estudos clínicos e laboratoriais, sabe-se que passar por uma experiência de dor cedo no seu desenvolvimento pode gerar consequências a longo prazo.
Os novos achados identificaram possíveis mecanismos e forneceram evidências de que mudanças comportamentais podem se estender por muito tempo depois do que é considerado o período normal de recuperação de uma lesão.
A dor crônica, inclusive a dor neuropática, é muito mais comum em crianças do que se pensava.
O tempo, grau da lesão e analgesia administrada podem ser determinantes no desfecho a longo prazo da dor infantil. Por isso, a avaliação e tratamento dessa dor e suas consequências funcionais apresentam um desafio.
Em artigo especial publicado em fevereiro de 2004 no periódico da Associação Americana de Medicina, o Dr. Richard Howard, anestesiologista e médico de dor, após buscas em bases de dados médico-científicos como a MEDLINE, EMBASE e Cochrane, faz uma chamada para mais pesquisas na área do controle da dor infantil.
No próximo post, continuaremos o assunto e falaremos mais sobre os avanços no diagnóstico e tratamento da dor infantil e algumas das ferramentas principais disponíveis para avaliação da dor infantil.
Não percam! Até logo!