Em 25 de março de 1995 recebi a notícia que meu pai havia falecido, vítima de um acidente automobilístico. Momento muito doloroso para nossa família, principalmente para mim, minha mãe e meu irmão.
Naquela época, tinha 24 anos e estava no segundo ano da residência médica em anestesiologia. Emocionalmente tenho essa data como divisor claro do fim de minha adolescência e o início de minha vida adulta.
Dia 25 de março é aniversário de Giselle, uma paciente com câncer primário do intestino que conheci na semana passada. Durante a consulta ela me fez um único pedido: passar seu aniversário sem as dores que vem sentindo.
Giselle, ao chegar pela primeira vez ao Singular, encaminhada por uma oncologista, cruzou olhares com Suelen, nossa funcionária, e para minha surpresa se reconheceram – tinham sido colegas de turma e recentemente concluíram o curso de técnicas em enfermagem.
Para controlar a dor de Giselle, nossa proposta inicial foi passar um cateter no espaço peridural e tunelizá-lo por debaixo da pele (assim ele pode permanecer por bastante tempo). Por este cateter, pode-se injetar doses intermitentes de morfina, em quantidades menores que a dose oral, com maior eficácia e menos efeitos colaterais.
Depois de realizado o procedimento e ainda na expectativa do resultado, segui conversando com Suelen e Giselle. Perguntei a Suelen quando completará aniversário. Sua resposta, “23 de agosto”. Nova surpresa para mim, pois este era o dia do aniversário de meu pai. Diante de mim estavam duas pessoas que se conheciam e que compartilhavam datas bastante significativas para mim: nascimento e morte de meu pai.
A profissão médica nos proporciona a alegria de poder ajudar pessoas a se livrarem das dores e isto temos conseguido com Giselle. Até o momento, o cateter tem lhe ajudado satisfatoriamente.
Parabéns Giselle, dia 25 de março você celebra 24 anos. Desejo-lhe muita saúde.Lembre-se: Deus está no controle.
E eu? Completo 20 anos sem meu pai, 20 anos como homem.
NOTA: