Dor Pélvica Crônica: Entenda as Causas e Tratamentos

05-DOR-PÉLVICA-CRÔNICA

Neste mês que vem as mulheres estarão em foco e, continuamos com nossa série sobre as dores mais comuns entre elas. A dor pélvica crônica (DPC) é uma condição debilitante que pode ter múltiplas causas e é de difícil diagnóstico. Além de causar grande sofrimento, a DPC pode impactar significativamente a vida médica e socioeconômica da mulher e de seus familiares.

Um caso que destacou essa condição foi o livro de memórias da chef e apresentadora do programa de TV Top Chef, Padma Lakshmi. Ela compartilha como as dores da endometriose contribuíram para o fracasso de seu casamento. Diagnosticada aos 36 anos, Padma fundou a Endometriosis Foundation of America para ajudar outras mulheres a evitar o intenso sofrimento que enfrentou.

O Que É a Dor Pélvica Crônica?

A dor pélvica crônica ocorre na região entre o abdômen inferior e o assoalho pélvico. É mais comum em mulheres em idade fértil, mas também pode afetar homens. Cerca de 15% das mulheres experimentarão dor pélvica em algum momento de suas vidas. A dor é classificada como crônica quando é recorrente e contínua, com um estudo no Reino Unido revelando que 3,8% das mulheres sofrem dessa condição, número similar ao de casos de asma e lombalgia.

A dor pélvica crônica é definida como uma dor não menstrual ou não cíclica que dura pelo menos seis meses e é suficientemente intensa para interferir nas atividades habituais, necessitando de tratamento clínico ou cirúrgico (Campbell, 1994)¹.

Causas da Dor Pélvica Crônica

Dor Apenas Ginecológica?

Historicamente, muitos médicos tratavam a DPC de uma perspectiva ginecológica. No entanto, pesquisas recentes revelaram que a dor pode ter origens não ginecológicas (Shulman, 2005)².

Dor Nociceptiva

Um exemplo é a dor urológica resultante de cistite intersticial, que pode ser exacerbada por cirurgias terapêuticas para incontinência urinária. A dor muscular, originada nos músculos abdominais profundos ou da musculatura do assoalho pélvico, caracteriza uma síndrome de dor miofascial.

Dor Neuropática

A DPC neuropática pode ocorrer como sequela de cirurgias, como o reparo de uma hérnia inguinal. Também há a dor idiopática, cuja causa permanece desconhecida.

Dor Psicogênica

A dor psicogênica, embora rara, pode ter origem em distúrbios afetivo-emocionais ou resultar de traumas, incluindo abuso sexual.

Diagnóstico e Tratamento da Dor Pélvica Crônica

Dada a diversidade de causas, um diagnóstico específico requer uma investigação cuidadosa e a colaboração de uma equipe interdisciplinar. É fundamental acolher o paciente, ouvir sua história e realizar um exame clínico abrangente, incluindo avaliações dos sistemas gastrointestinal, urinário, ginecológico, músculo-esquelético, neurológico, psicológico e endócrino.

[Clique no link para saber a história do paciente tratado por neuralgia do pudendo e dor crônica miofascial]

Outros fatores a considerar incluem a avaliação biopsicossocial do paciente e os resultados de testes de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética. Nos casos suspeitos de dor miofascial, a fisioterapia urogenital é recomendada. [Texto atualizado com link para: Fisioterapia na Dor Crônica Feminina]

É importante ressaltar que procedimentos cirúrgicos específicos, como a laparoscopia, devem ser considerados para pacientes selecionadas, após excluir condições como síndrome do intestino irritável e dor de origem miofascial.

O Papel do Médico Intervencionista no Tratamento da DPC

1. Diagnóstico Através de Bloqueios Terapêuticos

O médico intervencionista desempenha um papel crucial no diagnóstico e tratamento da dor pélvica crônica. O uso de bloqueios diagnósticos ajuda a diferenciar o tipo de dor: visceral, neuropática ou muscular. Esses bloqueios podem ser realizados para verificar se uma determinada estrutura é a fonte da dor do paciente.

Saiba Mais Sobre:

  • Dor Visceral
  • Dor Neuropática
  • Dor Muscular

Os bloqueios diagnósticos incluem bloqueio do plexo hipogástrico superior (Patt, Plancarte, 1996)³, do gânglio ímpar, infiltrações musculares e bloqueios de nervos periféricos, como o pudendo, genitofemural e obturador.

2. Controle da Dor com Técnicas Intervencionistas

Após o diagnóstico pela equipe interdisciplinar, o tratamento de controle da dor é instituído por meio de bloqueios terapêuticos, como:

  • Bloqueios anestésicos ou neurolíticos
  • Bloqueios com radiofrequência pulsada
  • Injeções de toxina botulínica (BTx-A)
  • Implantação de estimuladores medulares ou de nervos periféricos; bombas de infusão espinhal de fármacos.

Esses procedimentos devem ser realizados com o paciente acordado, sob sedação e guiados por radioscopia ou ultrassonografia.

A detecção e o diagnóstico precoces das causas específicas da dor pélvica crônica permitem a implementação de um programa de controle da dor, poupando o paciente de sofrimento desnecessário. As dores pélvicas crônicas representam um desafio, e o tratamento em equipe multidisciplinar acelera o processo de recuperação.

Fontes:

1. Campbell F, Collett BJ. Chronic pelvic pain. Br J Anaesth. 1994;
2. Shulman LP, Int J Fertil Womens Med. 2005
3. Patt R, Plancarte R. Superior hypogastric plexus block: a new therapeutic approach for pelvic pain. En: Waldman S, Winnie A. Interventional Pain management. Philadelphia: 1996. p. 384-91.

Compartilhe:

Nosso últimos conteúdos