Manejo da Dor Infantil
A maioria das pesquisas inciais no manejo da dor infantil tinha como foco a identificação e alívio da dor em ambientes hospitalares, com ênfase especial em dor na infância, dor pós-operatória, e dor oriunda de procedimentos diagnósticos e terapêuticos (mais frequentemente em crianças doentes e em crianças com câncer).
Entretanto, apesar do progresso do manejo da dor nesse ambiente, nos últimos anos, vem crescendo a conscientização de que crianças saudáveis, em casa, podem sofrer dor desnecessária durante doenças menores ou após cirurgias (Howard, 2003, artigo em pdf)
Razões pelo tratamento inadequado/tardio da dor infantil
O sub-tratamento e a demora no tratamento da dor pode ser por motivos como:
1 – Dificuldade em avaliar a severidade da dor. Para o cuidador, a criança pode aparentemente não estar sentindo dor ou pode ter dificuldade em descrever ou admitir a dor.
2 – Escolha de medicações e as dosagens corretas das mesmas. Se a pessoa cuidando da criança não estiver familiarizada com elas, inclusive os profissionais de saúde, pode ocorrer o sub-tratamento.
Na Emergência
No atendimento de Emergência, a identificação e alívio da dor devem ser prioridade no tratamento de crianças doentes ou feridas e, de acordo com as diretrizes nacionais e internacionais, este processo deverá começar desde a triagem, ser monitorado durante a permanência da criança na unidade e terminar assegurando que a criança continuará a receber analgesia depois da sua alta, se for indicada.¹
Há evidências de que o alívio da dor está relacionado com a satisfação do paciente.²
Ferramentas para a Avaliação da Dor
Formulários de avaliação da dor integram as regras de triagem do Protocolo de Manchester –método rápido de identificação dos pacientes que procuram o serviço de urgência, permitindo atenção prioritária aos casos mais graves.
Além disso, são utilizados múltiplas ferramentas de avaliação. As escalas unidirecionais mais conhecidas funcionam satisfatoriamente na avaliação e controle da dor no ambiente de Unidade de Urgência/Emergência, e até numa atmosfera mais tensa quando criança e pai/s estão sendo avaliadas pela primeira vez. A escada analgésica da dor contém descrições objetivas e subjetivas junto com a escala numérica.
Veja algumas destas escalas.
A Figura 1 mostra a escala de Wong-Baker³.
Enquanto isso, a escada de dor da APLS – Advanced Pediatric Life Support (Suporte Avançado de Vida em Pediatria) combinam descrições subjetivas e objetivas com carinhas de panda.
Ferramentas de avaliação desenvolvidas localmente também são recomendadas e, é claro, a experiência do profissional realizando a triagem também ajuda a estimar a severidade da dor.
Os profissionais também utilizam as indicações visuais como choro ou perda do movimento de um membro, que podem ser medidas com sistemas de escores de comportamento como o CHEOPS (sigla em inglês para Escala do Hospital de Crianças do Leste de Ontário), especialmente útil para crianças de 1-7 anos. Esta avalia choro, expressão facial, verbalização, movimento do tronco, posição das pernas e se a criança toca o local afetado. Uma pontuação de >/= 4 significa que sente dor.
Outro exemplo de escala de avaliação de dor é o NIPS (Neonatal Infant Pain Scale), usada pelas enfermeiras da neonatologia para avaliar a dor em recém-nascidos ou prematuros.
Como podem ver, há muitas ferramentas para auxiliar no diagnóstico e tratamento subsequente da dor dos pequenos.
Como mencionado no post anterior, “Dor infantil – elementos chave para um tratamento adequado”, o manejo inadequado da dor pode impactar negativamente múltiplos sistemas do corpo e, mais tarde na vida, afetar o processamento da dor pelos sistemas nervosos central e periférico dos pequenos pacientes. Estas mudanças fisiológicas podem aumentar a complexidade do tratamento e contribuir para o estabelecimento da dor crônica.
Dor aguda – Estratégias para seu alívio
Estratégias psicológicas para atenuar a dor incluem: envolvimento dos pais no processo do controle da dor, abraços, ambiente acolhedor à criança e explicações que confortam a criança. Todas elas ajudam a desenvolver a confiança.
Distração com brinquedos, soprar bolhas, leitura, histórias com super-heróis ou imagens de encantamento podem auxiliar no alívio da dor aguda.
O assunto da dor infantil dá muito pano para manga, inclusive entre os pesquisadores, já que há uma escassez de estudos sobre o tema. Voltaremos a abordá-la em outra ocasião.
Importante é lembrar que a sub-identificação ou sub-tratamento da dor infantil tem causado sofrimento desnecessário e precisamos ter um olhar mais atento a isso. Seja como profissional da saúde, aplicando as diretrizes e tratando a dor, seja como família procurando nos informar sobre a questão e participando do processo de alívio da dor –emocional e física.
A dor infantil precisa ser levado a sério!
Referências
1. Emergency Triage, 2nd Ed. BMJ Publishing Group, 2005
2. Stahmer SA, Shofer FS, Mariano A et al. Do Quantitative Changes in Pain Intensity Correlate with Pain Relief and Satisfaction? Acad Emerg Med 2008; 5(9):851-7
3.Wong-Baker Faces Pain Scale. Adapted from Whaley L, Wong DL. Nursing care of infants and children. 3rd. Ed. St. Louis: The CV Mosby Company, 1987
4. McGrath PJ et al, CHEOPS: A behavioural scale for rating postoperative pain in children. Advances in Pain Research and Therapy, vol 9, Ed. Fields, Raven Press, 1985
Revisado em 23/02/2013
Atualizado em 30/06/2018