A desativação dos pontos-gatilho é o principal tratamento da Síndrome de Dor Miofascial (SDM), também chamada de dor miofascial crônica, uma condição dolorosa que afeta os músculos esqueléticos, suas fáscias associadas, tendões e ligamentos.
No início a dor miofascial é local e pode acometer um músculo ou um grupo de músculos, piorando com atividade ou esforço. Quando evolui para a dor miofascial crônica, a SDM, a dor pode irradiar para outros locais. Pessoas com esta dor frequentemente apresentam com depressão, fadiga e distúrbios comportamentais.
Mais detalhes sobre causas em: Dor miofascial – possíveis causas
Pontos-gatilho (PGs)
Esta síndrome de dor caracteriza-se principalmente pela presença de pontos-gatilho (PGs) nos músculos esqueléticos, suas fáscias e estruturas associadas, assim como na zona de dor referida correspondente.
PONTO GATILHO – foco de hiperirritabilidade em um tecido que, quando apalpado, apresenta hipersensibilidade local e, se estiver suficientemente hipersensível, produz dor referida e é doloroso à palpação, e às vezes a fenômenos autonômicos e à distorção da propriocepção – J. Travell
Eles podem estar ativas ou latentes.
O ponto-gatilho ativo fica doloroso ao toque e pode levar à perda da força muscular e da amplitude de movimento.
Por outro lado, o latente é indolor durante as atividades normais, porém sensível à palpação. Este ponto latente, ou “tender point” (ponto sensível), é ativado por estiramento, uso excessivo, fadiga, trauma direto, e frio.¹
Quando estimulados, os PGs causam dores referidas de duração variável (segundos, horas, dias).
Dor Referida
Esta dor é profunda, dolorida, e ardente, podendo se espalhar em direção aos pés (caudalmente) ou em direção à cabeça (cranialmente). Quanto mais ativo o PG, maior a intensidade e a área de expansão da dor referida.
(Para você ter uma ideia do quanto pode ser doloroso: nosso corpo possui aproximadamente 400 músculos, que juntos representam metade da nossa massa corporal. Consegue imaginar múltiplos pontos-gatilho irradiando dor?!)
Além das dores locais causadas por PGs ativos ou dores regionais, causadas por dor referida, outros sintomas presentes na síndrome miofascial são: sensação de rigidez; perda de força muscular; sensação de formigamento; e baixa qualidade de sono devido às dores.
O tratamento da SDM é baseado principalmente na desativação dos PGs, portanto, é essencial a identificação e confirmação deles antes de iniciar o tratamento.
Dr. Jay P. Shah, médico do National Institutes of Health em Bethesda, Maryland, em 2012, chamou o músculo de um “órgão órfão”, dizendo que o músculo é um “órgão” literalmente sem dono, pois nenhuma especialidade foca nele especificamente.
Em consequência desta orfandade, é frequente a dor muscular nem ser considerada ao realizar um diagnóstico, situação agravada pela falta de um consenso sobre o diagnóstico de dor miofascial e procedimentos padronizados para a identificação de PGs.
Diagnóstico dos pontos-gatilho
O exame físico é fundamental para o diagnóstico e a termografia pode ser um excelente auxílio na localização dos PGs, mas o profissional precisa treinar muito para apalpar corretamente o tecido e fazer a identificação.
“Deve-se aplicar pressão firme, mas não ser muito agressivo, ” aconselha Dr. Shah.²
Desativação de PGs usando Técnicas Intervencionistas
A analgesia e o relaxamento muscular preparam o músculo para intervenções terapêuticas direcionadas ao resgate gestual e postural, também para o treinamento de força e resistência muscular.
Agulhamento com anestésico – esta técnica envolve a inserção de uma pequena agulha no PG e é indicado para um agulhamento mais profundo. A aplicação contém anestésico local, às vezes com um anti-inflamatório, e serve para desativar o PG e aliviar a dor. Numa única consulta, vários locais podem ser tratados. O efeito de relaxamento muscular é imediato. Geralmente, após um período curto de tratamento, o paciente tem o alívio por um bom tempo. O procedimento leva poucos minutos e fazemos no consultório mesmo.
Agulhamento a seco “dry needling” – se o paciente tiver alergia a algum medicamento, usamos esta técnica para desativar o PG. Nesta técnica, inserimos a agulha nos PGs nas bandas miofasciais tensas. Os fisioterapeutas também fazem esse agulhamento seco na sua prática clínica.
Toxina Botulínica-A – infiltração com toxina botulínica-A é um degrau acima do tratamento com agulhamento e com ela pode-se conseguir o relaxamento muscular imediato, com desativação dos pontos-gatilho, e consequente alívio da dor, permitindo assim uma reabilitação mais rápida³.
Conheça os tratamentos convencionais. Informações aqui.
Dor Miofascial vs Dor da Fibromialgia
Abro um parênteses aqui para responder uma pergunta comum dos pacientes. Qual é a diferença entre a dor miofascial e a dor da fibromiálgica? As duas síndromes envolvem pontos-gatilho dolorosos e não é incomum a dor da síndrome de dor miofascial ser confundida com a dor da fibromialgia.
A dor miofascial é uma condição muscular, enquanto acredita-se que a fibromialgia é um distúrbio na maneira como o cérebro processa os sinais da dor e a dor pode ocorrer em todo o corpo. A fibro tem outros sintomas que não afetam os músculos, como distúrbios de sono, síndrome de intestino irritável, cansaço em todo o corpo e dor de cabeça.
Prevenção
Pode não ser possível tratar todas as dores miofasciais. Como mencionei no início do post, são mais de 400 músculos, mas o paciente pode tomar algumas medidas preventivas para ajudar a reduzir sua ocorrência e encurtar o tempo de recuperação:
- Melhorar a postura
- Reduzir o peso corporal
- Fazer exercícios regularmente
- Comer alimentos saudáveis
- Aprender técnicas de gerenciamento de estresse
- adotar técnicas adequadas no trabalho e durante a prática de exercícios e esportes
Interessou pelo tema? Temos mais artigos sobre o tema:
Síndrome da Dor Miofascial – Parte I
Síndrome da Dor Miofascial – Parte II
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¹http://my.clevelandclinic.org/disorders/chronic_myofascial_pain/hic_chronic_myofascial_pain_cmp.aspx
²http://www.practicalpainmanagement.com/meeting-summary/muscle-pain-orphan-organ
³http://www.singular.med.br/midia/producao-cientifica.html
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Última atualização: 29/06/2018