Carta aberta a Mozart

Querido Mozart:

Como faço aos domingos pela manhã, ainda há pouco saí para correr meus 10km. Meus 50 anos já estão na esquina e se desejo ter uma vida longeva como a sua, preciso continuar me cuidando.

Enquanto corria, não parava de pensar em você. Daí, surgiu uma imensa vontade de te escrever. É Mozart, o Covid te levou… Que doença louca essa… Eu sabia que de coração você não morreria, pois já fizemos um super teste dele, não se lembra!?

Foi em agosto, naquele domingo em sua casa que eu, Jeisiane e um monte de amigos passamos a tarde inteira elevando sua perna porque seu coração estava batendo “vazio”. Realmente um trabalho intenso para nossos anjos, que aliás, nunca nos desampararam.
Como sempre, nos meses de janeiro você me procurava pois as dores das pernas retornavam. Mas neste nosso último encontro, eu o vi triste, circunspecto. Nem mencionou que meu time do coração vai amargar a Serie B do campeonato brasileiro até Deus sabe lá quando! E como premonição, já me trouxe um exame de Covid negativo, para me chamar ainda mais a atenção de que os exames têm falsos negativos. E seus gemidos, desta vez, não eram por dor e sim buscando um pouco de ar.

Mozart, em sua simplicidade aprendi o que é sabedoria e poder. Sabedoria na forma que solucionava seus problemas. Poder ao centralizar em sua casa, uma família linda, nos almoços de finais de semana. Infelizmente, com a pandemia esses encontros forçosamente finalizaram.

Mas Mozart, convenhamos, você não merecia testemunhar o que estamos vendo…Um país onde a vacina é politizada; oxigênio em cilindros também… Aliás, os livros devem estar errados: nos ensinaram que a Amazônia é o pulmão do mundo e agora vemos que Manaus sofre com falta de oxigênio…

Da vida, aprendi com um amigo que sempre me anuncia esta mensagem de aniversário: “Vida longa e morte rápida. Se puder alinhar os dois, melhor!”
E a vida te presenteou com ambos Mozart. Quando soube que depois de intubado, havia tido um derrame cerebral, entreguei um pedido a Deus que não o deixasse sofrer e lhe devolvesse a paz.
E assim transcorreu tudo: uma morte rápida, sem velório, sem despedidas, simples como você era.

Descanse em paz meu amigo. Obrigado por tudo que me ensinou.
E agora? Agora vou precisar encontrar um outro barbeiro.

 

Abraço afetuoso,

Charles

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