Alimento: cura ou causa de doenças inflamatórias e dolorosas crônicas? – Parte II

Dando sequência ao post anterior em que nosso convidado, Dr. Gilberto de Paula abordou o tema  Alimento: cura ou causa de doenças inflamatórias crônicas?, apresentamos aqui a Parte II da série em que o alergista e imunologista distingue entre alergia alimentar imediata e tardia, explicando o efeito e sintomas dos alergias tardias nas doenças inflamatórias dolorosas crônicas.

Dois tipos de alergia alimentar: imediata e tardia

A alergia imediata é profundamente estudada por médicos alergistas e não está relacionada com doenças inflamatórias crônicas, como enxaqueca, fibromialgia, síndrome do intestino irritável, insônia e cistite intersticial.

Teste intradérmico para alimentos

Quando falo de alergia alimentar tardia, não estou falando de alergia alimentar imediata, anafilática. A alergia alimentar imediata é facilmente detectada, pois sua reação ocorre em vinte a trinta minutos e pode ser detectada por Prick Teste¹ (neste é colocado, pelo braço ou no dorso, uma gota da substância capaz de causar a alergia e depois feito uma perfuração superficial na pele) ou por teste IGE alérgico específico.

Teste intradérmico para alimentos

Leite, amendoim, ovos, camarão e castanhas são os mais frequentes causadores de alergias anafiláticas em crianças. Estas não são relacionadas com dor crônica.

As alergias alimentares tardias são aquelas que ocorrem em 3, 6, 12, 24, 36, 48, 72 horas após a ingesta do alimento; podem ser mediadas por anticorpos IGG e por outros mecanismos. São denominadas também como alergias ocultas, cíclicas e mascaradas.

Testes clássicos para se diagnosticar a alergia imediata ou anafilática como o Prick Teste e os testes de IgEs rast no sangue não servem para alergias tardias

As alergias tardias são chamadas de cíclicas, Tipo III de Gell & Coombs, ou alergias mascaradas. Sua relação com processos inflamatórios dolorosos é estabelecida por testes de exclusão/provocação: essencialmente, excluir o alimento suspeito por quatro dias e reapresentá-lo no quinto ao organismo, reintroduzindo-o na dieta. Trata-se de um ensaio observacional muito mais clínico do que bioquímico e imunológico.

Aliás, nenhum teste no mercado de testes sorológicos tem acurácia e sensibilidade para estabelecer diagnóstico de todos os alimentos, podendo ser muito eficazes em um grupo restrito de pacientes. Uma das razões é que nem todas as reações são imunológicas; por vezes, o processo inflamatório ocorre por mecanismos inflamatórios não completamente conhecidos.

Para médicos ambientalistas o que interessa é: se o alimento, ao ser excluído da dieta, tem a propriedade de alterar a saúde do paciente positivamente e, ao ser reintroduzido, provocar sintomas indesejáveis.

Esta é a essência da alergia alimentar: ela pode ser provada de forma inequívoca desde que o médico ou nutricionista conheça a metodologia da exclusão e do desafio de alimentos potencialmente inflamatórios para um dado paciente.

Método para diagnosticar a alergia alimentar como participante na causa de uma doença crônica

Em minha prática utilizo o método de exclusão e desafio em pacientes com problemas de saúde complexos, como: portadores da síndrome de fibromialgia, urticárias crônicas, cefaléias, enxaquecas, vertigem postural, refluxo, asma e alergias respiratórias que não respondem à imunoterapia com diagnóstico de alergia inalatória, dores torácicas ou abdominais sem diagnóstico de patologia, gastralgias crônicas, intestino irritado, entre outras doenças crônicas.

Em geral, o pensamento de participação da alergia alimentar surge quando existem sintomas digestivos, eructações, refluxo, gastralgias, cólicas, diarreias, distensão abdominal. Sintomas e sinais distantes, como otite externa fúngica, rebeldes a tratamento antimicótico, podem ter como causa eczemas causados por alergias alimentares tardias, assim como dermatites atópicas de difícil controle.

Muitos pacientes com enxaqueca clássica são portadores de alergias alimentares ocultas, que podem ser evidenciadas por meio da exclusão e do desafio de forma fácil e objetiva.

By Dr. Gilberto de Paula, alergista, imunologista, nutrólogo

Teremos mais no próximo post. Fique de olho! Dentro do tema publicaremos mais sobre a alergia alimentar e a enxaqueca, imunoterapia, e termografia no diagnóstico da alergia alimentar tardia. E lembre-se, seus comentários são sempre bem vindos. Participe!

Ótimo início de semana para todos!

¹ Rev Paulista de Pediatria. Abordagem laboratorial no diagnóstico da alergia alimentar.

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-05822007000300011

 

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