Dor é algo que todos sofremos inevitavelmente em algum momento da vida.
Na sociedade moderna, com o acesso relativamente fácil a medicamentos, comparado com 15 a 20 anos atrás, cresce uma tendência preocupante — o uso indiscriminado de remédios controlados, em especial os analgésicos.
Perde-se a conta das celebridades nos últimos anos que foram exemplos do resultado da utilização indevida e letal de remédios controlados. Mas, atrás de portas fechadas, nas famílias comuns a dependência também cresce. Antidepressivos, soníferos, calmantes, analgésicos…a lista é longa.
Nos EUA, no estado de Flórida, foram necessárias regras mais rígidas no controle das prescrições de analgésicos, opióides como oxicodona e outros, para dar um basta no crescimento dos denominados “pill mills”, literalmente “moinhos de pílulas”, onde médicos prescreviam de forma indiscriminada e indevida.
De acordo com o Capitão Eric Coleman, comandante da divisão de narcóticos do Palm Beach County Sheriff’s Office, a venda ilegal dos remédios controlados, em especial a oxicodona, teve um boom nesse estado devido à ausência de um sistema de monitoramento de remédios controlados e leis estaduais pouco rigorosas.
Em fevereiro de 2011, procuradores federais chamaram a Flórida de epicentro da epidemia de abuso de medicamentos. Um ano mais tarde, apos implantarem regras mais rígidas, reportaram uma queda de 8% nas mortes associadas ao abuso de medicamentos (o número de pessoas que morrem por uso de drogas ilegais é menor) e o fechamento de mais de 300 clínicas de dor que vendiam prescrições, assim como a suspensão dos médicos infratores.
Por um tempo isto colocou o foco nas clínicas de dor, passando a especialidade por maus momentos, devido ao incorreto uso de medicações por alguns. As autoridades reconheceram que existem muitos bons e legítimos médicos de dor que realizam um grande serviço à comunidade, mas, que era necessário maior controle nas farmácias, clínicas e centros de emagrecimento.
Tratar dor não é tão simples quanto parece. O médico, além de precisar ter um bom conhecimento dos fármacos, precisa saber qual será utilizado e como utilizá-lo; deverá mensurar objetivamente o que está tratando e administrar a infeliz realidade de que alguns pacientes abusam das drogas legais.
Mas, quais são os sinais que dispomos para saber se o paciente está se tornando dependente dos medicamentos? Alguns sinais de aviso são o próprio paciente aumentar sua dose sem consultar seu médico, ou consultar vários médicos simultaneamente para conseguir receitas sem falar das receitas que já tem. E, estar dependente quer dizer que o uso do medicamento pode estar causando ou causará problemas na vida do paciente.
Não é simples para nós, médicos de dor, diferenciar o que é tolerância à medicação e o que é dependência. Isto é um tema interessante para um outro post.
Para concluir, a realidade americana é oposta à brasileira. Enquanto lá há um abuso na prescrição de opióides como exposto acima, no Brasil ocorre o contrário, uma subutilização destas medicações deixando uma quantidade imensa de pacientes subtratados, sentindo dor de forma desnecessária.
Tenham todos um ótimo domingo e até a semana que vem!
Assista: vídeo sobre epidemia de opióides nos EUA
http://www.bbc.co.uk/news/world-us-canada-18027014
Fontes:
http://www.webmd.com/pain-management/features/prescription-drug-abuse-who-gets-addicted-and-why. Acessado em 22/06/2012.
http://www.nytimes.com/2011/09/01/us/01drugs.html?pagewanted=all. Acessado em 22/06/2012.
http://www.webmd.com/pain-management/features/prescription-painkiller-addiction-7-myths?page=2. Acessado em 22/06/2012.