A DOR TOTAL EM CUIDADOS PALIATIVOS

Nos meses de outubro e novembro, os temas câncer de mama e de próstata se tornam o foco no Brasil e no mundo na busca da conscientização para a prevenção e tratamento precoce da doença. O Mundo sem Dor busca somar a esses esforços trazendo informações sobre o controle da dor, a qual está sempre presente em quem está enfrentando a batalha contra o câncer. Para tanto, para iniciar o novembro azul, convidei Alexandre Silva, colega de longa data, professor da Universidade Federal de São João-del-Rei e especialista em cuidados paliativos, para falar sobre o tema e como esse controle contribui para a qualidade de vida objetivada nos cuidados paliativos.

Seguem as considerações do Prof. Alexandre:

O manejo da dor é um desafio em todas as áreas, mas principalmente quando falamos em cuidados paliativos. O controle da dor aparece especificado em um dos princípios dos cuidados paliativos, justamente por sua importância na qualidade de vida do paciente.

Sabemos que a dor é um conceito subjetivo e pessoal, caracterizado pelas vivências desse sintoma em experiência vividas pelo paciente, sendo elas físicas, mentais, sociais ou espirituais. Quando englobamos a dor presente nos quatro aspectos citados, obtemos um conceito que foi criado por Cicely Saunders, matriarca e precursora dos cuidados paliativos, chamado de Dor Total.

[quotes style=”modern” align=”left” author=”Dame Cicely Saunders”]Você importa porque você é você, e você nos importa até o fim da sua vida. Faremos tudo que pudermos, não somente para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para você viver até a hora de sua morte.

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O alívio da dor não é alcançado somente através da farmacologia, já que podemos observar que nem sempre o foco de origem da mesma é físico. A visão holística do paciente pelo profissional de saúde é de extrema importância para a identificação da origem da dor e posteriormente para o tratamento da mesma.

Quando o foco principal de dor não é identificado e devidamente tratado, esse sintoma pode se expandir para outros aspectos, ou seja, uma dor física não solucionada pode gerar estresse e posteriormente dor mental.

A dor física aparece como um alarme, que diz que algo não funciona corretamente no organismo do paciente, é caracterizada pela verbalização e/ou através de expressões faciais de sofrimento.

A dor mental pode ser causada por inúmeros fatores, como transtornos relacionados a saúde mental e má administração de processos de enfrentamento, como por exemplo a realização da finitude. É caracterizada por mudanças de humor, perda de sonhos e esperança e necessidade de redefinição perante o mundo.

A dor social é muito presente na perda do papel social e mudança de status de cuidador, é caracterizada pela dificuldade de comunicação e isolamento social.

A dor espiritual surge através da perda de sentido, esperança e significado, trata-se de um aspecto mais complexo por ser individual e necessitar muitas das vezes de ajuda de um profissional específico para encontrar uma solução.

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Todas essas esferas se inter-relacionam entre si, causando uma dificuldade aos profissionais na hora de identificar a origem que pode estar também em mais de um aspecto. Quando um paciente encontra-se em cuidados paliativos exclusivos, todos os aspectos que o compõe são afetados, seja através da mudança no papel de cuidador, da perda do papel social, do enfrentamento da finitude e/ou da dor física causada pela doença de base.

A dor física é o aspecto mais abordado pelos profissionais de saúde, mas nem por isso deve ser tratada com mais importância, para que o paciente obtenha a qualidade de vida que é o objetivo dos cuidados paliativos, todos os aspectos da dor devem ser abordados e tratados, cada um com suas especificidades.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Cuidados paliativos oncológicos: controle da dor. – Rio de Janeiro: INCA, 2001.

Pessini, L. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. Job006 Rev Bioetica N5 final 11/25/02

Prof. Alexandre agradece à graduanda em enfermagem e membro fundadora da Liga Acadêmica de Cuidados Paliativos da UFSJ, Carolina Eloi, por sua colaboração na produção desse texto.

mini bio Prof. Ddo. Alexandre E Silva  colaboradora na produção do texto Carolina Eloi

 

 

 

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