História da Medicina da Dor

by Dra. Andrea Trescot

O controle da dor ou medicina da dor é a área da medicina dedicada ao alívio da dor e à melhora da qualidade de vida dos pacientes que convivem com a dor crônica. Embora a dor seja uma condição que todas as criaturas sofrem, a especialidade médica de controle da dor é surpreendentemente novo.

Possivelmente, a referência mais antiga ao intervencionismo da dor seja aquela encontrada na Bíblia, no livro de Gênese, quando Deus pôs Adão para dormir, mantendo-o em sono profundo para poder remover a costela que utilizaria como molde na criação de Eva.

As culturas antigas sabiam bastante sobre as propriedades analgésicas das plantas, Registros egípcios em papiros do século 3000 A.C. já tinham descrito o uso do suco da papoula (ópio) no tratamento da dor. As culturas chinesas e outras culturas orientais identificaram os pontos de dor distribuídos pelo corpo todo e acabaram desenvolvendo a terapia com acupuntura. Os primeiros filósofos gregos, como Platão, reconheceram que o cérebro era o local de percepção da dor e mostraram sua ligação com o sistema nervoso periférico.

Foto do recipiente do éter para anestesia
Aparelho de anestesia com éter

Em 1170, no primeiro livro de cirurgia ocidental, tinha descrições de esponjas embebidas em ópio e seguradas próximo ao nariz do paciente para aliviar a dor em cirurgias. A morfina foi isolada em 1806, a agulha e seringa para injeções hipodérmicas começaram a ser utilizadas em 1839 e, em 1846, pela primeira vez, o éter foi usado como anestésico durante uma cirurgia.

A cocaína, isolada das folhas de coca na América do Sul, foi identificada como um anestésico local em 1860 e logo depois foi utilizada em bloqueios nervosos. Durante a Guerra Civil Americana — a primeira em que balas de alta velocidade foram usadas — os médicos notaram que lesões nervosas causavam dores desproporcionais à lesão em si. Causalgia, da palavra grega que significa “ardência” foi descrito por Weir-Mitchell em 1864.

Utilizando as novas agulhas hipodérmicas, a cocaína, e subsequentemente o álcool absoluto, foram injetadas nos nervos para proporcionar o alívio da dor em pacientes submetidos a cirurgias, pacientes com lesões e pacientes com câncer. Novocaína (procaína), que não tinha o mesmo efeito colateral da cocaína, da dependência, foi desenvolvida em 1904.

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) deram ampla oportunidade para o uso deste novo conhecimento no tratamento das dores produzidas pelo trauma, congelamento, e dor fantasma, assim como a dor das síndromes simpáticas como causalgias, justamente em uma época em que anestésicos locais mais seguros estavam sendo desenvolvidos para substituir a cocaína.

Cirurgia durante a II Guerra Mundial.

Foi durante a Segunda Guerra Mundial que um cirurgião do exército, chamado John Bonica, iniciou uma abordagem multidisciplinar no manejo da dor dos veteranos com dor crônica, o que chamou atenção de uma forma geral para o subtratamento da dor e, em especial para a dor crônica.

A abordagem intelectual dele e as iniciativas médicas organizadas, junto com a publicação em 1953 do seu primeiro livro, um tratado compreensivo sobre o controle da dor, “The Management of Pain,” (O Manejo da Dor), o conduziram ao seu papel universalmente reconhecido de fundador do manejo da dor moderno.

John Bonica trabalhou na Universidade de Washington em Seattle após a Segunda Guerra Mundial e seus esforços inspiraram a fundação da  Sociedade Americana de Dor (American Pain Society) e da Associação Internacional para o Estudo da Dor (International Association for the Study of Pain).

No final dos anos 1980, já estava claro que a dor poderia ser tratado não somente por medicações orais, mas também pela injeção de medicações específicas em estruturas específicas.

Na medicina, existem radiologistas que examinam radiografias e radiologistas intervencionistas que utilizam a radioscopia para direcionar agulhas para estruturas específicas com a finalidade de obter material tecidual para diagnóstico; existem cardiologistas que analisam as ECGs (eletrocardiogramas) e prescrevem medicamentos para hipertensão, e existem cardiologistas intervencionistas que utilizam a cateterização e as radiografias para acessar os vasos sanguíneos e colocar stents.

Foi a partir desse conceito que Steve Waldman, em 1990, cunhou o termo “medicina intervencionista da dor” para distinguir o controle da dor por medicamentos nas terapias com injeções. O primeiro livro didático sobre medicina intervencionista da dor, “Interventional Pain Management,” por Steven Waldman e Alon Winnie, foi publicado em 1995. Waldman também fundou a “Society for Pain Practice Management” (Sociedade para o Controle da Dor), que serviu como fórum educacional e clínico na orientação de jovens intervencionistas da dor nos desafios gerenciais e clínicos na prática clínica da medicina da dor.

Em razão de várias técnicas de medicina intervencionista da dor em uso serem originalmente desenvolvidas por anestesiologistas nas salas de cirurgia e de recuperação, a especialidade medicina da dor era considerada parte da American Society of Anesthesiologists (Sociedade Americana de Anestesiologistas). Entretanto, no final dos anos 1990, um número cada vez maior de anestesiologistas começaram a deixar a anestesiologia e a focar a medicina intervencionista da dor em tempo integral.

Ao mesmo tempo, outros especialistas, como os radiologistas, neurologistas, e especialistas em clínica geral e medicina reabilitativa também começaram a praticar a medicina intervencionista da dor em tempo integral. A International Spine Intervention Society (Sociedade Internacional de Intervenções na Coluna) foi estabelecida em 1993 como uma associação de clínicos gerais interessados no desenvolvimento, implantação, e padronização de técnicas percutâneas para o diagnóstico preciso da dor na coluna.

Em 1998, foi formada a American Association of Pain Management Anesthesiologists (Associação Americana de Anestesiologistas da Dor), e no ano seguinte o nome foi mudado para a American Society of Interventional Pain Physicians (Sociedade Americana de Médicos Intervencionistas da Dor), para refletir o começo de uma nova especialidade.

O primeiro exame de certificação por uma sociedade de medicina foi aplicado em 1993, pelo Comitê Americano de Anestesiologistas. Em 2001, o congresso americano reconheceu a Medicina Intervencionista da Dor como especialidade.  Em 2006, o American Board of Interventional Pain Physicians (Associação Americana de Médicos Intervencionistas da Dor) desenvolveu uma certificação para médicos intervencionistas da dor, que incluía exames escrito, oral, e prático em cadáver, de modo que todos os três componentes do seu treinamento pudessem ser avaliados.

Portanto, enquanto é verdade que praticamente todo paciente que visita um médico tem queixa de dor, o treinamento e certificação nesta especialidade têm parcos 20 anos — está apenas na “adolescência” comparada com as especialidades da medicina interna ou da cirurgia.

Espera-se que, em algum dia no futuro próximo, todos os clínicos recebam treinamento obrigatório em medicina da dor antes de se formarem na faculdade de medicina. Até esse dia chegar, é importante que o paciente esteja ciente e que se informe sobre o treinamento e credenciais do médico de dor com quem pretende tratar.

Clique na imagem para visualizar a mini-bio da Dra. Andrea. Até semana que vem!

CV Dra Andrea Trescot
CV resumido Dra. Andrea Trescot

 

 

 

 

Tradução: Camille Khan

 

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