50% dos Pacientes com Câncer Sofrem Dor Desnecessária

Na semana em que se celebra o Dia Mundial de Controle da Dor do Câncer, pude acompanhar um paciente terminal, vivenciando todo o sofrimento dele e de sua família. Concomitante à dor física, normalmente oriunda do tumor primário, das metástases e das terapias anticancerígenas, presenciei todo o sofrimento psíquico de um homem de 38 anos com filhos em idade escolar.

Foi possível perceber o impacto sócio-econômico que sua falta implicaria à família, assim como as questões emocionais, espirituais e culturais que as moviam. Isto reforçou ainda mais a minha convicção de que nós médicos precisamos estar atentos ao conceito da dor total e avaliar todas estas questões do paciente.

A literatura aponta que 50% dos portadores de câncer em estágio intermediário e 80% no estágio avançado terão dor!

Quando se aplica a escada analgésica proposta pela OMS (Organização Mundial de Saúde): nas dores de leve intensidade utilizando analgésicos comuns e medicações coadjuvantes (antidepressivos, anticonvulsivantes), nas dores moderadas adicionando opióides fracos, e nas dores intensas substituindo os opióide fracos por opióides  fortes, conseguimos um alívio da dor de 75 a 95%.

No restante, pode-se fazer procedimentos minimamente invasivos, os quais têm o objetivo de destruir o nervo responsável pela geração da dor. Isto pode ser realizado com uma solução líquida de fenol ou álcool absoluto, ou com uma lesão térmica por radiofrequência.

Em situações extremas podemos implantar uma bomba intratecal (uma espécie de marcapasso debaixo da pele)  que fará pequenas infusões de morfina no sistema nervoso central, diminuindo em muito a quantidade de opióides necessária para controlar a dor.

Entretanto, 50% desses pacientes com câncer, permanecem com dor não-tratada e não-controlada!

A longevidade da população mundial está aumentando e concomitantemente a incidência de câncer ao redor do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Isto sugere que os problemas da dor do câncer irão aumentar dramaticamente nas próximas décadas.

O Brasil precisa instituir políticas públicas sérias no controle da dor do câncer, tais como disponibilização de opióides à população na rede pública e treinamento médico para prescrição correta, já que reina em nosso meio a opiofobia, tanto na classe médica quanto na sociedade.

 

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